CONTROLE DO GLIFOSATO, PESTICIDAS, DISRUPTORES HORMONAIS NA EPIDEMIA DE OBESIDADE, DIABETES MELLITUS TIPO 2 E COMORBIDADES, SÍNDROME METABÓLICA, ENTRE OS XAVANTE DE SANGRADOURO-VOLTA GRANDE E SÃO MARCOS 
Publicado em 31/01/2024

CONTROLE DO GLIFOSATO, PESTICIDAS, DISRUPTORES HORMONAIS NA EPIDEMIA DE OBESIDADE, DIABETES MELLITUS TIPO 2 E COMORBIDADES, SÍNDROME METABÓLICA, ENTRE OS XAVANTE DE SANGRADOURO-VOLTA GRANDE E SÃO MARCOS 

UMA CONTRIBUIÇÃO À SOBREVIVÊNCIA DOS XAVANTE E DEMAIS POPULAÇÕES INDÍGENAS BRASILEIRAS 

João Paulo Botelho Vieira Filho
Professor Adjunto da Escola Paulista de Medicina Universidade Federal de São Paulo
Preceptor do Centro de Diabetes
Consultor Médico dos Xavante da Terra Indígena Sangradouro-Volta Grande 

JANEIRO 2024 

Aos Xavante com epidemia de diabetes 

Ao Ministério Público, Ao Conselho Nacional de Justiça, Á 6a Câmara de Minorias, Ao Supremo Tribunal Federal, Ao Ministério dos Povos Indígenas, Ao Ministério do Meio Ambiente, Ao Ministério da Saúde, À Fundação Nacional dos Indígenas, À Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, À Associação dos Povos Indígenas 

CONTROLE DO GLIFOSATO, PESTICIDAS, DISRUPTORES HORMONAIS NA EPIDEMIA DE OBESIDADE, DIABETES MELLITUS TIPO 2 E COMORBIDADES, SÍNDROME METABÓLICA, ENTRE OS XAVANTE DE SANGRADOURO-VOLTA GRANDE E SÃO MARCOS 

O Glifosato é um agrotóxico usado como herbicida largamente no mundo, intensamente no Brasil nas lavouras de soja, milho e algodão (3), em redor das Terras Indígenas que no Centro-Oeste tornaram-se ilhas cercadas pela soja. 

As pulverizações aéreas em redor e nas proximidades das Terras Indígenas como as habitadas pelos Xavante e outros grupos indígenas é intensa, contaminando o ar, o solo e a água que vem em direção dos agrupamentos indígenas. Os indígenas tem seus cursos d’água contaminados pelo Glifosato como também o ar e o solo. 

Há aldeias como a de Volta Grande em que o fazendeiro vizinho negociou plantar soja na Terra Indígena até as casas dos Xavante, em que a contaminação é intensa, com ocorrência notável de obesidade, diabetes mellitus tipo 2 e hipertensão arterial. (6,7) 

Observei uma criança com câncer ósseo na Terra Indígena São Marcos e outra com linfonodulomegalias à esclarecer, um homem com sarcoma, um homem com linfonodulos cervicais na Terra Indígena Sangradouro – Volta Grande, vários casos de neuropatias progressivas suspeitas de hereditárias entre jovens com evolução para o óbito nas Terras Indígenas Sangradouro – Volta Grande e São Marcos. Organização de Saúde dos Estados Unidos ligam o Glifosato ao câncer (3). 

Os pesticidas ou agrotóxicos são usados intensamente nas lavouras de soja brasileiras como herbicidas, eliminando as ervas que competem com a soja (3). A soja plantada no Brasil é transgênica (3) ou modificada geneticamente como tolerante ao Glifosato (7). Este pesticida é usado também como dissecante no final do ciclo da soja, próximo da colheita (3,7). 

O Glifosato ou N-phosphonometylglicine (Roundup) é produzido pela indústria química Bayer, alemã, que sucedeu na produção da Monsanto (3,7,14). 

Evidencias epidemiológicas e clínicas mostram que o Glifosato é obesógeno ou favorece a obesidade (3,5,10,13,14,16,17), diabetogênico (5,7,13) ou favorece o diabetes mellitus tipo 2 e como consequência suas comorbidades, hipertensão arterial (10), distúrbios cardiovasculares (10,19) como infarto do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais, esteatose hepática ou gordura no fígado (10), cânceres da mama, do fígado, do sistema linfático ou linfoma não Hodgkin (3,7), retinopatia (11, 12). 

A obesidade atinge 50,8% da população Xavante de Sangradouro – Volta Grande e São Marcos (6). 

O diabetes mellitus tipo 2 atinge 40,6% das mulheres Xavante de Sangradouro – Volta Grande e São Marcos, a maior prevalência mundial (29), quando entre a população brasileira é de 9,1% em 27 capitais e Distrito Federal (6). 

A síndrome metabólica (aumento da circunferência abdominal, hipertensão arterial, dislipidemia com diminuição do HDL colesterol e aumento dos triglicérides, alteração da glicemia) (5,7,8,9,16,17,18), atinge prevalência preocupante entre os Xavante de Sangradouro – Volta Grande e São Marcos de 66,1% (18) e outros grupos indígenas. 

Sabemos que a obesidade é multifatorial (2), com componente genético que comprovamos entre os indígenas brasileiros com variantes de genes benéficos na sobrevivência antes do contato (1,23); com componente de sedentarismo como o abandono das roças e deambulação com uso de carros e motocicletas após contato com os civilizados ocidentais; com componentes de alimentos industrializados, processados e ultraprocessados em excesso como os refrigerantes. 

No entanto sabemos que outros fatores ambientais estão presentes (2,4,7,8,10,16,25), contribuindo com a obesidade e o diabetes mellitus tipo 2, com indígenas adultos com mais de 100kg entre os Xavante e adolescentes com 14 e 15 anos cegos pela catarata diabética e que foram obesos previamente (24). 

Os pesticidas como os organofosforados, como o Glifosato intensamente usado em pulverizações aéreas da soja, contaminam o ar, a água e o solo na direção das Terras Indígenas, contribuindo com tantas evidencias epidemiológicas e clínicas da literatura médica como obesógenos e diabetogênicos (2,3,5,7,9,13,14,17). 

Há também experimentos laboratoriais com animais e células humanas mostrando as alterações promovidas pelo Glifosato e outros pesticidas (3,7,10,16). 

O Glifosato no Brasil é usado em concentrações 5.000 vezes maiores que o que era permitido na Europa (3). 

A Agência Internacional de Pesquisa do Câncer (IARC) considera o Glifosato como provavelmente, potencialmente carcinogênico (3,7). No México o Glifosato foi banido em 2024 na comercialização e no uso, baseado no efeito carcinogênico e no risco do linfoma não Hodgkin entre humanos (3,7). O Glyphosate foi banido também na Colômbia, Arábia Saudita, Oman. Malawi, Sri Lanka, Emirates Árabes, Vietnan, Malásia, Slovakia e Áustria (7). Outros países baniram parcialmente o Glyphosate como Estados Unidos e Canadá (7). 

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) relatou que a exposição ao Glifosato é tóxica no acúmulo de resíduos nos alimentos (7). 

A Agencia de Vigilância Sanitária Brasileira (ANVISA) não tem restrições ao Glifosato como mutagênico, tóxico, para reprodução e teratogênese (3). 

Na minha exposição procuro mostrar as referências de publicações médicas e as evidências epidemiológicas e clínicas (2,3,5,7,8,9,14,17), laboratoriais (14), do risco do Glifosato que se controlado afastaria esse fator ambiental entre populações indígenas geneticamente propensas à obesidade (1,7,18,23), que deixam suas dietas tradicionais que deram alimentos de primeira ao mundo e passam para dietas hipercalóricas industriais e sedentarizam-se (25). Há ainda as cestas básicas familiares erradas com alimentos hipercalóricos e provável resíduos de pesticidas e agrotóxicos. 

As substâncias químicas como os pesticidas ou agrotóxicos Organofosforados como o Gllifosato, usado intensamente nas plantações de soja com aviões, são Disruptores Endócrinos Químicos (EDCs), que interferem nas ações hormonais como nas disfunções das células beta e alfa pancreáticas (2,8,9,). Os EDCs são obesógenos e diabetogênicos (5,8,13). 

Na contramão da Ciência o Governo Federal anterior ao atual, sancionou a venda e aplicação de 474 novos pesticidas ou agrotóxicos no ano de 2019, autorizando o maior número de agrotóxicos nos últimos 14 anos (3). 

O fornecimento de alimentos de qualidade com redução do uso de pesticidas (16) é do maior alcance para a saúde das populações indígenas pelas variantes de genes que possuem e favorecem a obesidade (1,23), o diabetes mellitus tipo 

2 (1,23), a síndrome metabólica (1,23), também para a população brasileira e mundial. 

Nos fatores favorecedores da obesidade e diabetes mellitus tipo 2 com suas comorbidades (2,9,10,16,21), não podemos intervir na genética (1,20,23) não favorecedora após o contato e que era favorecedora antes do contato, porém podemos intervir no estilo de vida dos indígenas incentivando a dieta alimentar tradicional (25,26,29), desde que tenham terras demarcadas e homologadas, mostrando o perigo dos alimentos industrializados hipercalóricos como açúcares e gorduras, refrigerantes e bebidas alcoólicas, estimulando o exercício físico no esporte que aderem com facilidade como vôlei. Essas medidas devem ter o apoio governamental com mensagens educativas no ensino fundamental e médio. 

Quanto aos fatores alimentares deve-se diminuir a exposição aos agrotóxicos até a eliminação completa, desses promotores de obesidade (10,11,16), diabetes mellitus tipo 2 (13) e cânceres com significância entre animais (2,3,5,7,8,9,14,16,17). 

O incentivo às roças orgânicas é fundamental. 

Um Programa Brasileiro contra o Diabetes Mellitus Tipo 2 que tenho solicitado desde 1988, seria de grande valor, como os programas contra o diabetes mellitus tipo 2 existentes nos Estado Unidos para seus indígenas e do Alasca sancionado pelo Congresso dos Estados Unidos entre 80 tribos, e Canadá para suas populações originárias, com grande sucesso (24). Solicito um programa brasileiro contra o diabetes há anos sem conseguir. (24) 

Quanto aos fatores ambientais causadores de prevalência assustadora de diabetes como entre as mulheres Xavante com maior prevalência mundial (28), deve-se diminuir a exposição aos agrotóxicos promotores de obesidade (10), diabetes mellitus tipo 2, síndrome metabólica e cânceres (5,7). Deverá haver uma política pública que possa garantir uma menor exposição aos agrotóxicos, quanto a pulverização aérea com aviões e drones com contaminação do ar, solo e alimentos e a diminuição gradativa do uso de pesticidas. O incentivo às roças orgânicas e fornecimento de cestas básicas familiares orgânicas é fundamental. 

O controle dos resíduos dos agrotóxicos na água e nos alimentos (4) favorecerá à saúde de populações tão expostas como as indígenas sobretudo do Brasil Central e onde houver plantações de soja, milho e algodão sobretudo. 

O Instituto Nacional do Câncer (INCA) recomenda a redução gradativa dos agrotóxicos desde o ano de 2015, até a sua eliminação completa na prevenção do câncer e incentiva e apoia a agricultura agroecológica (Folha de São Paulo 29/12/2023). 

Algumas dosagens confirmaram a presença do Glifosato no trato gastrointestinal de humanos e mamíferos pela ingestão de alimentos, inalação e contato com a pele (3). 

Há uma lagoa conhecida como Encantada na Terra Indígena Sangradouro- Volta Grande, limítrofe com fazenda de soja que chega com sua plantação até a beira d’água, onde os Xavante pescam e comem os peixes contaminados pela nebulização aérea intensa com Glifosato. 

O Brasil é um dos quatro países com maior venda e consumo de pesticidas no mundo (3). 

O Glifosato ocasiona câncer em animais de laboratório (3) e o linfoma não Hodgkin entre humanos (3,7). 

A exposição aos pesticidas como Glifosato foi correlacionada com o índice de massa corpórea (BMI), com a relação cintura corporal e a circunferência do quadril, com os triglicérides, com os níveis glicêmicos, com a hipertensão arterial e a síndrome metabólica entre os fazendeiros do sul do Brasil (17). Os principais agrotóxicos usados pelos fazendeiros do sul do Brasil tem efeito hepatotóxico (17). A obesidade observada entre fazendeiros do sul do Brasil estava relacionada com o aumento da glicose, da resistência periférica à insulina, ao aumento dos triglicérides, decréscimo do HDL, aumento da pressão arterial, com a síndrome metabólica (17). 

Em estudo com células humanas, o Glifosato aumenta as aberrações cromossômicas e induz ao câncer da mama (7). 

Comunidades do Vale Mayo no México consumidora d’água próxima de canais de irrigação e expostas à contaminação pelo glifosato, mostraram correlação estatística com o diabetes mellitus tipo 2 e hipertensão arterial (7). 

O Glifosato em humanos é citotóxico e genotóxico com efeito inflamatório e compromete as funções dos linfócitos (7). O Glifosato induz Metilação do DNA em células epiteliais não neoplásicas mamárias e contribui para a formação de tumores (7). 

O Glifosato tem efeito tóxico em células humanas in vitro, estando associado a diferentes tipos de câncer, com grande relação com o linfoma não Hodgkin (7). 

Os pesticidas organofosforados com o Glifosato amplamente investigado unem obesidade e diabetes mellitus tipo 2 em humanos e roedores (2,14). 

Pesquisadores investigando a presença do Glifosato na urina encontraram 0,34ng/ml nos participantes sem diabetes mellitus e 0,42ng/ml nos com diabetes (14). O Glifosato urinário estava significantemente associado ao diabetes mellitus tipo 2 (7,14). Essa pesquisa provou com evidência que o Glifosato urinário estava associado com alto risco de diabetes na população adulta americana (14). 

Em 243 amostras de alimentos como cereais, vinho, sucos de frutas e mel foram encontradas a presença do Glifosato (14). Em outros alimentos também foram encontrados pesticidas, como também na água ingerida 

Entre 20.146 norte-americanos do estudo NHANES 2013-2016 foi encontrada associação entre os níveis de Glifosato urinário e o risco ao diabetes mellitus tipo 2 (14). Essa investigação forneceu evidência clínica do risco potencial à saúde com a exposição ao Glifosato no meio ambiente (14). 

Estudos epidemiológicos investigativos demostraram que o Glifosato tem impacto negativo como Disruptor Endócrino Químico (EDC) no sistema reprodutivo (4,13) e na função da tireóide (14). 

O Glifosato está associado com alterações da glicose, com o metabolismo dos lípides, com a inflamação, com o aumento do stress oxidativo, com a resistência à insulina, como potenciais mecanismos para o diabetes mellitus tipo 2 (5,14). 

As substâncias químicas exógenas interferem com algum aspecto da ação hormonal pelo que são definidos como Disruptores ou Desreguladores Químicos Endócrinos (EDCs) (2,8,9,10,13,16). 

O termo obesogênico é usado para produtos químicos que promovem ganho de peso e obesidade, pelo aumento do número de adipócitos (células gordurosas) e armazenamento nos adipócitos existentes, mudando o balanço energético, regulando o apetite e a saciedade (9,13,16). O efeito obesogênico pode causar diabetes mellitus tipo 2 (8), alterando a função das células beta produtoras de insulina e a resistência periférica à insulina (5,8,9,14). 

Esta revisão sugere com provas clínicas e mecanismos de evidência que os Desreguladores Endócrinos Químicos (EDCs) são obesógenos (5,13,15,16) e diabetogênicos (2,3,5,8,13,16), levando ao desenvolvimento da síndrome metabólica (5,8,13,16), com grande risco pelo acúmulo na água, solo e cadeia alimentar (13). 

Os EDCs como Glifosato podem potencialmente induzir a disfunção do tecido adiposo branco (13), do marrom (13) responsável pela termogênese (9,10,13). 

Entre 40 mulheres grávidas de Idaho nos Estados Unidos próximas de campos com agricultura, o Glifosato urinário estava significantemente aumentado na temporada de pulverizações em comparação com mulheres longe dos campos de pulverização (4). 

População exposta ao Glifosato na França mostrou Glifosato na urina em 99% de 7.000 testadas entre 2018 e 2020 (4,7,9,14). 

A exposição ao Glifosato durante a gestação pode mudar a expressão do genes no DNA hereditário, epigênia, com transmissão Transgeracional ou para futuras gerações (4,7,13,16). 

Os pesticidas como Disruptores ou Desreguladores Químicos Endócrinos (EDCs) (5,8) são obesógenos (15,16), que interferem diretamente nas células gordurosas aumentando seu número ou aumentando as reservas de gordura nas células (3,16). Afetam os mecanismos reguladores do apetite e saciedade, alterando o metabolismo a favor do deposito de gordura, alterando a microbiota 

intestinal (10,15,16) para promover aumento da ingestão alimentar (3,16), desordens do desenvolvimento neurológico (15). 

Os agroquímicos são obesógenos em experimentos animais (3,16). 

Há consideráveis evidências clínicas e epidemiológicas ligando a exposição aos pesticidas ou agroquímicos ou agrotóxicos à obesidade (1,3,5,13,15,16), diabetes mellitus tipo 2 (1,5,7,13), síndrome metabólica (1,5,8,13,18,23,27), hipertensão arterial (5), doenças cardiovasculares, problemas reprodutivos, alterações da tireoide (3,16,27), além da hereditariedade e sedentarismo. 

Podemos intervir no incentivo às roças orgânicas tradicionais (26,29), nos programas sociais com cesta básica e merenda escolar com aquisição de alimentos orgânicos, na política pública dos pequenos produtores de alimentos orgânicos, no controle dos agrotóxicos, na contaminação d’água, solo e ar. 

Mensagens educativas na escola sobre o risco de alimentos doces e gordurosos da dieta hipercalórica industrial, devem ser transmitidas aos Xavante de Sangraduouro-Volta Grande, São Marcos e outros grupos indígenas com o risco hereditário e do sedentarismo à obesidade e diabetes mellitus tipo 2. 

As plantações de soja submetidas aos agrotóxicos no Brasil Central tornaram- se desertos verdes em que não mais observamos emas, carcarás e vida animal como no passado. Não desejamos que a vida humana também desapareça. 

A proibição das pulverizações aéreas das lavouras de soja, milho, algodão e outras com agrotóxicos seria a primeira medida de proteção das populações Xavante e outras, intensamente submetidas à contaminação d’água, ar e solo. Beneficiaria a saúde e protegeria os Xavante e demais populações originárias contra a obesidade, diabetes mellitus e comorbidades, síndrome metabólica a que são propensas pela hereditariedade. 

A Medicina Preventiva deve ser sempre lembrada na política pública de saúde, pois evita sofrimento da população e evita gastos (27) com medicamentos e internamentos hospitalares. 

O negacionismo científico tão disseminado na sociedade brasileira dificulta medidas preventivas 

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O Congresso dos Estados Unidos estabeleceu o Ato de Proteção da Qualidade Alimentar em 1996, que estabeleceu o nível do uso dos pesticidas nas colheitas de alimentos (27). Essa legislação reduziu a exposição aos pesticidas organofosfatos pela associação aos custos sociais nos Estados Unidos, diminuindo os prejuízos causados pelos Disruptores Endócrinos Químicos (EDCs) em sua população (27). 

E como ficam as nossas queridas populações indígenas e brasileiras, com tantas facilidades para as pulverizações aéreas e aplicações intensivas de Glifosato e outros agrotóxicos? 

Na cidade de Primavera do Leste, próxima da Terra Indígena Sangradouro – Volta Grande, os poços semi-artesianos estavam contaminados com agrotóxicos. Na cidade de Lucas do Rio Verde o leite das mulheres que amamentavam seus filhos continha agrotóxicos. 

Recomendo a dosagem urinária do Glifosato entre os Xavante de Sangradouro- Volta Grande e São Marcos, a interrupção das pulverizações aéreas das plantações de cereais e outras lavouras. 

A Constituição do Brasil garante o direito à vida e saúde em relação ao Meio Ambiente equilibrado, devendo ser cumprida. (Folha de São Paulo, 29/12/2023). 

Nas Terras Indígenas Sangradouro – Volta Grande e São Marcos havia 300 Xavante em tratamento irregular do diabetes tipo 2, inúmeros amputados por gangrena diabética e falecidos pelas complicações do diabetes em 2023. O tratamento irregular deve-se à falta de compreensão cultural da necessidade diária de medicamentos durante toda a vida para doença crônico degenerativa diabetes mellitus tipo 2, falta de insulinas de ação mais prolongada que evitem várias aplicações diárias como as insulinas fornecidas pelo SUS. 

Bartolomeu Patira Pronhopa liderança da Terra Indígena Sangradouro – Volta Grande, transmitiu-me em vídeo (que posso disponibilizar) seu desespero com o diabetes entre os Xavante, dizendo que os Awê-Uptabi estão morrendo diabéticos em todas as Terras Indígenas, pela falta de um Programa Preventivo Contra o Diabetes que o Dr. João Paulo vem solicitando há anos (24). 

11 

Presto minha homenagem ao técnico de enfermagem Constancio Ubuhu de Sangradouro, que preparei em São Paulo no Centro de Diabetes da UNIFESP como controlador das glicemias e administração de insulinas, que exerceu sua função da melhor maneira profissional até seu falecimento com diabetes. 

Constancio Ubuhu 

Dieta tradicional Xikrin da Terra Indígena Cateté 

 

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Dieta industrial Parakanã da Terra Indígena Apyterewa 

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