Fatores Associados ao Estado Nutricional de Mulheres com Câncer de Mama
Publicado em 26/01/2024

A Organização Mundial da Saúde prevê que, até 2030, existirão aproximadamente 27 milhões de novos casos em todo o mundo, com 17 milhões de mortes causadas pela doença e cerca de 75 milhões de sobreviventes. O impacto será maior nos países de baixa renda. O relatório mais recente da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) sobre estimativas de incidência e mortalidade por câncer, GLOBOCAN 2020, projetou 19,3 milhões de novos casos de câncer e 10 milhões de mortes pela doença em 2020, com base na variabilidade geográfica em 185 países em todo o mundo. O câncer de mama é a neoplasia maligna mais diagnosticada, representando 11,7% de todos os casos em mulheres, e é a segunda principal causa de morte relacionada ao câncer em todo o mundo.

No Brasil, segundo a última estimativa do Instituto Nacional do Câncer (INCA), são esperados 704 mil novos casos de câncer a cada ano durante o triênio 2023-2025. O câncer de mama feminino é o câncer mais comum em todas as regiões brasileiras (10,5%), excluindo os tumores de pele não melanoma. Especificamente, em mulheres, são projetados cerca de 74.000 novos casos de cancer da mama por ano durante o triénio 2023-2025.

O câncer de mama é uma doença multifatorial. Suas causas incluem fatores como idade, etnia, localização geográfica, histórico familiar de câncer antes dos quarenta anos, nuliparidade, primeira gravidez em idade avançada, menarca precoce, menopausa tardia, exposição à radiação, uso de anticoncepcionais orais e alterações hormonais, como exposição excessiva ao estrogênio. Fatores de estilo de vida, como consumo de álcool, dieta inadequada, uso de tabaco e falta de atividade física, também desempenham um papel. Além disso, um índice de massa corporal (IMC) mais elevado está associado a um risco aumentado de desenvolver câncer de mama e a um pior prognóstico.

As alterações no estado nutricional em pacientes com câncer estão associadas à localização, estágio e sintomatologia da doença, bem como ao tipo de tratamento antitumoral utilizado. Além disso, a alteração do estado nutricional leva a alterações na composição corporal devido à perda de músculo esquelético e redução das reservas de tecido adiposo, resultando em variações no peso corporal.

De acordo com as diretrizes estabelecidas pela Sociedade Europeia de Nutrição Clínica (ESPEN) com a publicação das diretrizes de nutrição clínica no câncer, uma avaliação abrangente do estado nutricional deve ser realizada logo após o diagnóstico. Recomenda-se monitoramento contínuo, seguido da implementação de intervenções nutricionais independente do estágio do câncer. A Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO) sugere os seguintes métodos para avaliação nutricional: composição corporal, IMC, ingestão alimentar, proteína C reativa, albumina, inflamação sistémica, o Nutritional Risk Screening-2002 (NRS-2002) e Ferramenta universal de triagem de desnutrição (MUST).

O estado nutricional de pacientes com câncer de mama pode ser afetado negativamente pelo processo terapêutico devido a efeitos colaterais como mucosite, náuseas e vômitos, que ocorrem juntos como um conjunto de sintomas gastrointestinais, juntamente com anorexia, todos determinantes para os hábitos alimentares do paciente e, consequente impacto no seu estado nutricional. Assim, durante o tratamento antineoplásico, a ingestão alimentar pode ser prejudicada e contribuir para a deterioração do estado nutricional do paciente.

A terapia nutricional especializada é de suma importância para ajudar a restaurar e/ou manter o estado nutricional, a qualidade de vida e a funcionalidade do paciente. Entretanto, estudos que incluam fatores associados ao estado nutricional de pacientes com câncer de mama em estádios I, II e III, principalmente aquelas que estão hospitalizadas, permanecem escassos na literatura. 

OBJETIVOS DO ESTUDO

O objetivo deste estudo foi avaliar o estado nutricional de mulheres com câncer de mama não metastático e identificar fatores associados a ele.

MÉTODOS

Foi realizado um estudo observacional transversal em um Centro de Assistência Oncológica de Alta Complexidade da região sudeste do Brasil, com o objetivo de avaliar o estado nutricional de mulheres em tratamento para câncer de mama em estágio I, II ou III. Foram excluídos pacientes em cuidados paliativos ou submetidos a cirurgia reconstrutiva. A coleta de dados ocorreu entre junho de 2022 e março de 2023 e incluiu questionários, exames físicos, exames laboratoriais e avaliações antropométricas. O estado nutricional foi avaliado por meio de medidas como IMC e espessura de dobras cutâneas, enquanto o risco nutricional foi avaliado por meio da ferramenta Nutritional Risk Screening (NRS-2002).

RESULTADOS

Foram encontradas associações significativas entre risco nutricional e escolaridade (p = 0,03) e IMC (p = 0,01). A análise de regressão logística binária revelou associação significativa entre escolaridade e risco nutricional, indicando que menor escolaridade estava associada a maiores chances de risco nutricional (OR = 4,59; IC 95% = 1,01–21,04; p = 0,049). Além disso, em relação ao IMC, observou-se que IMC acima de 20,5 kg/m2 esteve associado a maior probabilidade de risco nutricional (OR = 0,09; IC 95% = 0,01–0,89; p = 0,039).

CONCLUSÕES

É fundamental considerar o estado nutricional das pacientes com câncer de mama, juntamente com os fatores clínicos, para oferecer um atendimento integral e personalizado. Obter informações sobre as variáveis sociodemográficas ligadas ao risco nutricional pode contribuir significativamente para a nossa compreensão do câncer de mama. Este conhecimento, por sua vez, pode ajudar na identificação de estratégias eficazes para políticas públicas, promoção da saúde e esforços de prevenção destinados a combater esta condição.

 

Fonte: Nutrients 2023, 15, 4961. https://doi.org/10.3390/nu15234961

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