INFORMAÇÃO DA CLASSIFICAÇÃO DO ASPARTAME PELA IARC
Publicado em 06/07/2023

Sobre a informação da classificação do aspartame pela IAR

Primeiro, é importante esclarecer que a avaliação da IARC deverá ser conhecida no dia 14 de julho.

E antes de comentar o assunto, é necessário conhecer mais sobre a agência de classificação.

O que é a IARC?

Na sigla em inglês IARC significa INTERNATIONAL AGENCY FOR RESEARCH ON CANCER. É uma agência intergovernamental que faz parte da Organização Mundial da Saúde das Nações Unidas. Seu papel é conduzir e coordenar pesquisas sobre as causas do câncer. Também coleta e publica dados de vigilância sobre a ocorrência de câncer em todo o mundo. Seu programa de monografias da IARC identifica perigos cancerígenos e avalia as causas ambientais do câncer em humanos.

Quais são as categorias de classificação?
O Grupo de Trabalho da IARC classifica um agente em uma das quatro categorias, que variam de carcinogênico para humanos (Grupo 1) a não classificável quanto à sua carcinogenicidade para humanos (Grupo 3). As categorias de classificação indicam a força da evidência quanto à capacidade de um agente causar câncer (tecnicamente chamado de “perigo”), mas não mede a probabilidade de ocorrência de câncer (tecnicamente chamado de “risco”) em um determinado nível de exposição ao agente.

Grupo 1 – Considerados carcinogênicas para humanos.
Grupo 2A – Provavelmente cancerígeno para humanos.
Grupo 2B – Possivelmente cancerígeno para humanos
Grupo 3 – Não classificável quando à sua carcinogenicidade para humanos.

Os termos provavelmente e possivelmente não têm significado quanWtaWvo e são usados apenas para descrever níveis diferentes de evidência. Sendo que provavelmente significa um nível mais alto de evidência do que o termo possivelmente.

O que significa a classificação em termos de risco?
A classificação indica a força da evidência de que uma substância ou agente pode causar câncer. O Programa de Monografias da IARC busca idenWficar os agentes que apresentam perigo de câncer, ou seja, que têm o potencial de causar câncer pela exposição. Entretanto, a classificação não indica o nível de risco associado a um determinado nível ou circunstância de exposição. O risco de câncer associado a substâncias ou agentes com a mesma classificação pode ser muito diferente, dependendo de fatores como o Wpo e a extensão da exposição, e o grau do efeito do agente em um determinado nível de exposição. Duas substâncias ou agentes classificados no mesmo grupo não devem ser comparados. As comparações dentro de uma categoria podem ser enganosas. Por exemplo, o tabagismo aWvo acarreta um risco muito maior de câncer de pulmão do que o fumo passivo ou a poluição do ar, embora todos os três sejam classificados no Grupo 1.

Qual é a diferença entre risco e perigo?
O Programa de Monografias da IARC idenWfica os perigos de câncer, mas não avalia os riscos associados a níveis específicos ou circunstâncias de exposição. Porque saber a disLnção entre perigo e risco é importante. Um agente ou substância é considerado um perigo de câncer se for capaz de causar câncer em algumas circunstâncias. O risco mede a probabilidade de ocorrência de câncer, levando em conta o nível de exposição ao agente. O Programa de Monografias da IARC pode idenLficar perigos de câncer mesmo quando os riscos são muito baixos com padrões conhecidos de uso ou exposição. O reconhecimento de tais perigos carcinogênicos é importante porque novos usos ou exposições imprevistas podem levar a riscos muito maiores do que os observados atualmente.

Alguns exemplos de perigo e risco:
E possível um meteorito cair do céu e matar uma pessoa. Isso significa que o meteorito representa um perigo às pessoas. Mas a incidência de meteoritos acertarem uma pessoa ao cair na Terra é muito pequena, por isso, podemos dizer que o risco de isso acontecer é muito baixo. Outro exemplo, tubarões representam um perigo ao ser humano, mas se você não nadar em áreas onde eles não existem, o risco será baixíssimo.

O que significa a classificação no Grupo 2B?
O Grupo 2B significa que o agente é possivelmente carcinogênico para os seres humanos. Os agentes ou substâncias podem ser classificados no Grupo 2B de várias maneiras diferentes. Normalmente, uma classificação do Grupo 2B significa que há evidências convincentes de que o agente causa câncer em animais experimentais, mas pouca ou nenhuma informação sobre se ele causa câncer em seres humanos. Essa categoria também pode ser usada quando há alguma evidência de que o agente pode causar câncer em seres humanos e em animais experimentais, mas nem a evidência em seres humanos nem a evidência em animais experimentais são convincentes o suficiente para permiLr uma conclusão definitiva. Também pode haver evidências mecanicistas consistentes, mostrando que o agente exibe uma ou mais das caracterísWcas-chave reconhecidas dos carcinógenos humanos.

Exemplos de agentes ou substâncias classificados no Grupo 2B:
Legumes em conserva (tradicional comida asiáWca), samambaia, trabalhar com carpintaria e marcenaria, lavanderia de lavagem a seco, processos de impressão, indústria de transformação têxWl, cabelereiros, frequência extremamente baixa, campos eletromagnéWcos de radiofrequência (ex.: uso de celulares), fibra de vidro, melamina, pó corporal a base de talco.

E o álcool da caipirinha, da cerveja, do gin tônica e do vinho nosso de cada dia, em que categoria está?

Desde 2012, o etanol presente nas bebidas alcoólicas faz parte do grupo 1 de agentes e substâncias classificados como carcinogênicos pela IARC (Agência Internacional de Pesquisa em Câncer) da OMS. Essa categoria abrange mais de 100 itens, sobre os quais há evidência cienffica suficiente de que são capazes de causar câncer em seres humanos. É a classificação mais severa que um agente pode receber. Na lista estão compostos químicos, misturas complexas, moléculas farmacêuWcas, agentes gsicos e biológicos. No grupo 1 ainda tem as carnes vermelhas em geral (boi, porco carneiro e cabrito) e as carnes processadas.

Em resumo:
As classificações da IARC indicam que um composto tem potencial para causar câncer (perigo), mas não avaliam o risco na práWca de desenvolver câncer em uma pessoa. Eles avaliam se um dia seria possível de apresentar um risco, sob quaisquer circunstâncias, mesmos que estas sejam quase que improváveis de acontecer. A IARC aponta o perigo. Quem faz o trabalho de avaliação do risco real, ou seja, se é provável que algo cause câncer quando exposto a uma quanWdade realista é o JECFA. O JECFA (The Joint FAO/WHO Expert Commilee on Food AddiWves) é o comitê cienffico internacional de especialistas administrado conjuntamente pela FAO/ONU e pela OMS. Entre outras funções, são eles os responsáveis pela avaliação de risco/avaliação de segurança dos adiWvos alimentares. 

Sobre a segurança do aspartame.
O aspartame é um adoçante arWficial com, praWcamente, zero calorias, usado para subsWtuir o açúcar em bebidas e alimentos. Consiste em dois aminoácidos unidos (fenilalanina – um aminoácido essencial e ácido aspárWco). Durante a digestão, a fenilalanina e o ácido aspárWco são separados e uma pequena quanWdade de metanol é produzida. O metanol é potencialmente cancerígeno porque se converte em ácido fórmico via formaldeído, que pode danificar o DNA. No entanto, as quanWdades de metanol liberadas após o consumo de bebidas contendo aspartame são extremamente baixas, cerca de 50 mg em um litro no máximo, o que é cerca de três vezes menor do que a quanWdade de metanol em sucos de frutas, como suco de laranja. Para os amantes do vinho, os níveis de metanol no vinho podem chegar a 250 mg/litro.

A segurança do aspartame tem sido debaWda há décadas. Foi estudado a fundo pela EFSA em 2013 que concluiu que o aspartame é seguro para os consumidores nos níveis usados nos produtos alimenfcios (alimentos e bebidas). Este adoçante é, provavelmente, um dos adiWvos alimentares mais pesquisados no mundo. O aspartame é considerado seguro e aprovado para consumo em todo o mundo, segundo as principais agências de Segurança de Alimentos: JECFA da OMS, FDA dos EUA, EFSA da Europa, Health Canada, FSANZ da Nova Zelândia e Austrália e a ANVISA no Brasil, entre vários outros. O JECFA, inclusive, também está reavaliando o aspartame e sua conclusão está para sair em breve.

A ciência é muito mais do que listas de produtos do bem e do mal.
Todos somos atraídos por caminhos curtos e soluções simples. Para todo problema complexo existe sempre uma solução simples, elegante e completamente errada. As avaliações da IARC para alimentos e adiWvo alimentares não consideram o contexto em que são consumidos, nem a frequência, nem a quantidade.

As principais agências acima citadas, constataram que o consumo de aspartame de até 40 mg/kg de peso corporal por dia (2,4 g/dia para um adulto de 70kg) não causa nenhum efeito adverso. Para ter um risco aumentado associado ao aspartame, um adulto teria que consumir de 12 a 36 latas de refrigerante diet por dia, durante toda a sua vida. Esse volume não é razoável para uma única pessoa. Portanto, esse alerta, será pouco útil.

Se a IARC classificar o aspartame como cancerígeno, vai significar que ele apresenta o mesmo perigo de usar telefones celulares. Isso significa que pode até haver alguma evidência fraca de que pode causar câncer em humanos, mas isto, está longe de ser uma verdade, ou um fato conclusivo. Outro ponto que temos de observar é que, só porque algo pode causar câncer, não significa que isso aconteça automaWcamente se você for exposto a isso. Sabemos que o sol é cancerígeno, ou seja, que ele é um perigo, mas se usarmos protetor solar e moderarmos na exposição, os riscos serão bem menores e a probabilidade de ter câncer por causa do sol, será muito menor.

Infelizmente, a antecipação de uma informação sobre saúde, e a forma como a IARC comunica suas classificações mais atrapalham do que ajudam. Elas, no mínimo, causam pânico e desinformação na população em geral. A expressão “possivelmente cancerígeno” causa medo e receio nas pessoas.

Palavras como “câncer”, “cancerígeno” chamam a atenção e deixam a ciência e tudo mais em segundo plano. A palavra câncer é muito poderosa. Todos nós conhecemos alguém que morreu dessa doença terrível. Como disse o Dr. Sylvain Charlebois, conhecido como The Food Professor no Canada, “explorar uma doença para influenciar o comportamento e as escolhas alimentares das pessoas é deplorável. A IARC se transformou num circo cien>fico. Devemos nos concentrar em decisões baseadas na ciência, em vez de alarmismo insFtucionalizado.”

 

Márcia Terra

Para saber mais:
https://cot.food.gov.uk/sites/default/files/cot/cotstatementmethanol201102revjuly.pdf
https://wiki.cancer.org.au/policy/CitaWon:The_InternaWonal_Agency_for_Research_on_Cancer
https://monographs.iarc.who.int/agents-classified-by-the-iarc/
https://wiki.cancer.org.au/policy/CitaWon:InternaWonal_Agency_for_Research_on_Cancer_2006
https://monographs.iarc.who.int/wp-content/uploads/2018/07/IARCMonographs-QA.pd

 

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